CAPIBA 1

CAPIBA E A CAIXA DE PREGOS

Capiba foi um dos maiores compositores que já existiu em pernambuco. Esta história é real, e sobre como eu o conheci.

Pout-pourri Capiba ( De Chapéu de Sol Aberto, Juventude Dourada, Cala a Boca menino, Oh! Bela)by André Rio

Acredito que certas coisas que aconteceram em meu passado foram tão esquisitas que merecem ser contadas. Essa é uma delas.

Meu tio Edmo Cirne era dentista, e tinha o consultório no centro do Recife, em um edifício que fica na esquina da Avenida Guararapes com a Dantas Barreto. Então era um consultório bem antigo, com objetos cirúrgicos que mais pareciam saídos de um filme de terror. Daí meu medo de dentista até hoje...

Como a família da gente é bem tradicional, e muito antiga ( e eu fui tipo filha atrasada, nasci após 20 anos de casamento dos meus pais), os amigos de meu pai e tios eram pessoas de um Recife mais antigo, bem conhecidas da sociedade recifense. Através de meus tios e de algumas reuniões de amigos, conheci figuras recifenses interessantes. Capiba era um deles.

Eu tinha uns sete anos e fora ao consultório de meu tio para um exame dentário de rotina, e lá estava o mestre compositor de músicas como “É de Amargar”, “Deixa o Homem se Virar”, ”O Bela!” ,”Trombone de Prata”. Eu nada sabia sobre ele então.

Um senhor baixinho,gordinho e sorridente. Parecia um Papai Noel . Usava uma camisa de botão, bem colorida e estava acomodado ali, esperando a vez na consulta com meu tio. Minha mãe me falou que ele era um compositor famoso, e fui conversar com ele por curiosidade.

Ele, bem simpático, falou que adorava gatos. Com base nestas duas informações, ou seja, de que era um compositor e amava gatos, eu tirei a conclusão de que gostava dele e de que ele merecia ganhar um presente.

Mas eu era uma criança, não tinha dinheiro. Estava num prédio sem flores, que presente eu iria dar?

Em Busca do Presente Ideal

O consultório de dentista do meu tio funcionava em um conjunto de lojas comerciais, bem no coração da Avenda Guararapes. Uma série de salas comerciais, pintadas de um amarelo bem brilhante, claramente no estilo dos anos 80.

Certamente que eu aproveitava as ocasiões para conhecer o ambiente. Enquanto eu esperava para ser atendida (medo...), ficava andando e fuçando em tudo. Naquele tempo as crianças ainda podiam caminhar mais livremente, mas sou filha de um quase terrorista. De grande imaginação.

Acima de tudo, meu pai costumava dizer que , de tanto xeretar, um dia iriam colocar um algodão com clorofórmio no meu nariz, eu iria dormir e só acordar deitada numa cama. No momento em que eu acordaria, talvez uma trapaça do destino sórdido, estaria amarrada em uma maca.

Com um homem mau preparando a faca para arrancar meus órgãos (aí eu argumentava que preferia acordar só depois, já morta; por que eu tinha de acordar justo um pouco antes do homem me cortar e tirar as tripas fora???).

Meu pai não contra argumentava isso.

De tanto sair xeretando as lojas, fiz amizade com vários dentistas , comerciantes e lojistas de todo o prédio. Consequentemente, com o dono de uma sapataria, louro de cabelos compridos, chamado Galego. Galego parecia algo reminiscente dos hippies. Era a pessoa com a qual mais me dava bem, de todos os amigos ocasionais de então.

Corri para lá.Expliquei a situação para ele: Expliquei por alto a situação: Queria dar um presente para Capiba porque ele gostava de gatos, e eu não tinha verba. Será que ele não teria algo ali, na sapataria, que pudesse me dar?

Capiba e o presente, afinal!

Galego pensou,pensou e disse: “Olha, Roberta, só tenho aqui uma caixa de prego de sapato” e eu: “Perfeito! Me dá?”

Até embrulhou em papel pardo, amarrou com barbante, que presentão que eu ia dar  (aham).

Cheguei de volta e Capiba ainda estava esperando ser atendido por meu tio,. Então dei a ele o melhor presente do mundo, aquela caixa de prego. Espero que ele tenha precisado de prego um dia, e lembrado de como aquilo foi útil...

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