Folclore, medo e fatos verídicos andam às vezes de mãos dadas, o que acontece no caso da lenda da Cabra Cabriola.
Cabra Cabriola é uma assombração que devora crianças malcriadas. mas quais as bases desse mito recifense? Vamos esclarecer neste post.
No princípio
Da mitologia Hebraica ,dos demônios Cananeu e Japonês, passando pela tradição oral, contos de fadas de Grimm e Perrault, até chegar nos dias de hoje, uma análise dos mitos da Cabra cabriola e dos Papões.
Cabra Cabriola monstro Recifense, ou certamente baseado em outras lendas mundiais? Vamos explorar um pouco a mitologia do monstro, E tecer assim algumas especulações de sua origem.
Câmara Cascudo classifica o mito no chamado Ciclo da Angústia Infantil, ou seja os mitos que são utilizados para manter as crianças comportadas. Mas que geram o medo pelo imaginário infantil.
Neste ciclo temos também exemplos da Cuca, do Homem do Saco, etc. Então como se parece a Cabra Cabriola?
Diferente do lobisomem ou mula-sem-cabeça, que são mais aculturações adaptadas diretamente que mitos originais, a Cabra Cabriola tem sim, origem Ibérica (Portugal), mas guarda suas mais antigas raízes brasileiras no mito rural.
É cabra-bicho, um bicho de tal monstruosidade que lembra sempre os mais requintados mitos do folclore mundial.
Pereira da Costa narra a estória da Cabra Cabriola no seu Folclore Pernambucano (pp. 80/81. Rev. Inst. Hist. Bras.,tomo LXX. Parte II. Rio de Janeiro, 1908).
Trata-se de uma cabra de tamanho gigantesco, com presas compridas, cara horrenda. Se movimenta aos saltos (cabriolando), soltando fogo pelos olhos. possui muitas histórias relacionadas, mas tem uma que é considerada o mito principal. Apesar de ser claramente européia a conduta da mãe em trabalhar à noite, deixando os filhos sós em casa, o que era contrário aos cuidados maternos no Brasil, pelo menos na época da construção do mito, esta lenda representa todo o imaginário do monstro
Cabra Cabriola Monstro , A lenda, como nos conta Pereira da Costa
Havia uma mulher que tinha três filhos de tenra idade, e saindo sempre à noite para angariar meios de subsistência para eles, recomendava-lhes muito insistentemente, que se prevenissem contra as astúcias da Cabra Cabriola, não abrindo a porta senão a ela própria, cuja voz e toada particular perfeitamente conheciam.
Certa noite, porém, chegado o monstro, bate à porta, e ignorando o acordo estabelecido, pede como se fosse a mãe das crianças, que a deixem entrar; mas, falando naturalmente com a sua voz forte, grossa e horrível, nada conseguiu das suas artimanhas, e saiu desesperada bramindo:
Eu sou a Cabra Cabriola,
Que come meninos aos pares,
E também comerei a vós,
Uns carochinhos de nada.
Retrocede depois, oculta-se, e aguarda a volta da mulher, e com semelhante artifício aprende-lhe a toada, e repara bem no seu metal de voz.
No dia seguinte vai à casa de um ferreiro, manda bater a língua na bigorna, e conseguindo assim modificar a sua voz tornando-a mesmo igual à da mãe dos meninos, vem à noite, espreita a sua saída e depois, bate à porta cantarolando a conhecida toada:
Filhinhos, filhinhos
Abri-me a porta,
Qu’eu sou vossa mãe;
Trago lenha nas costas,
Sal na moleira,
Fogo nos olhos,
Água na boca,
E leite nos peitos
Para vos criar.
E as pobres crianças na persuasão de que era a sua própria mãe que assim lhes falava, abrem pressurosas e alegres a porta, e inopinadamente acometidas pela esfaimada Cabra Cabriola, são devoradas por ela.
PEREIRA DA COSTA, F.A. -Folclore Pernambucano (pp. 80/81. Rev. Inst. Hist. Bras.,tomo LXX. Parte II. Rio de Janeiro, 1908).
Origem do mito: De Moloch à Grimm e Perrault
Analisando a lenda, apesar de ser associada ao castigo que sofrem as crianças malcriadas, vemos que isso não ocorre, pois os meninos foram ludibriados.
Percebemos, porém, que a Cabra Cabriola, apesar da aparência animalesca, possui uma inteligência capaz de enganar. Guarda bastante semelhança com algumas fábulas. Onde o mal insidioso engana o bem, por sua ingenuidade ou curiosidade.
O lobo mau com Chapeuzinho, a raposa com as galinhas temerosas do fim do mundo. Ou mesmo a bruxa de Branca de Neve, que usou três disfarces e venenos diferentes para matar a moça.
Vamos aprofundar o mito buscando nas origens ancestrais. Mais precisamente na deidade MOLOCH.
Moloque, Meleque, também conhecido como Malcã, de acordo com a bíblia, é o nome do deus ao qual os Amonitas (povos da península arábica e Oriente Médio), sacrificavam seus infantes.
Também é nome de um demônio na tradição cristã e cabalística. Sua forma de touro remete à carnalidade, obscuridade humana na terra.
De acordo com escrituras, por volta de 1900 a.C. Moloch era adorado pelos Amorreus. No ritual ocorriam atos sexuais e sacrifícios de crianças, para obter boas colheitas.
Era construída uma estátua gigantesca, com uma cavidade para a fogueira. Neste fogo purificador eram lançados as crianças, ainda vivas, para deleite do Deus. Na demonologia cristã, Moloch é a entidade que se compraz em roubar crianças e fazer as mães chorarem.
O ato de "devorar" (o fogo no estômago da estátua) deu origem aos primórdios dos mitos de papões de Grimm e Perrault, adaptados ao gosto popular e tradições orais que cruzaram Europa e mesmo no oriente, como veremos a seguir.
Papões nas Mitologias Pelo Mundo e no Brasil.
Como uma curiosidade, assim podemos falar dos mitos dos "papões" , que podem ter influenciado a tradição oral folclórica em algum momento. O tradicional bicho -papão da cultura Ocidental tem suas raízes, como vimos, na deidade Moloch.
Na Grécia, o mito se modificou para Chronos, o Deus que devora os próprios filhos. O mito foi adquirindo as características herdadas, à medida que o tempo passou.
Na Espanha, o bicho-papão tem as características de fogo nos olhos e na barriga, o que guarda lembrança da estátua de Moloch e se referencia com os olhos de fogo da Cabra Cabriola. Nossos mitos, como o Homem do Saco, a Cuca, entre outros pertecem a esta gama de personagens, onde "papão" certamente deriva do ato de papar, comer, devorar.
Um outro exemplo, de fato no Japão temos o BAKU, um espírito YOUKAI ( animalesco). Sua origem remonta à China antiga, que o descreve como um animal semelhante a um bode (bem semelhante à Cabra Cabriola com nove caudas, quatro orelhas e olhos em suas costas. Baku, o mito foi levado para o Japão por volta do século XIV, a partir daí, a descrição da besta mudou ao longo do tempo.
É geralmente descrita como uma curiosa criatura com o tronco e as presas de um elefante, olhos de rinoceronte, a cauda de uma vaca, e as patas de um tigre. Baku é descrito sempre como um espírito benevolente do reino onírico, que entra nas casas e devora os pesadelos, transformando-os em boa sorte para o humano adormecido.
Mais assustador que o invisível é aquilo que podemos ver. abaixo, alguns monstros de carne e osso que vestiram a pele do bicho-papão. "Comeram meninos aos pares", tal a Cabra Cabriola.
Papões que Caminham Entre Nós ; Os Monstros da Vida Real.
Falar sobre o imaginário sempre é mais fácil. Quando enfim transpomos para a vida real, muitas vezes é mais terrível que o horror jamais descrito por qualquer ficcionista. É certamente o caso dos canibais devoradores de crianças. Não apenas sentem desejo por carne humana, mas são bem específicos no gosto.
Vamos então falar por alto de alguns.
Após a Revolução Russa, durante o Governo de Lênin (1921/1922) foram de fato relatados casos de canibalismo. Devido à fome e privação que a população sofreu, inclusive com casos de crianças canibalizando outras crianças. Os camponeses sempre armazenavam corpos para comer. Deste período que vem a frase que "Comunistas comem criancinhas".
O caso foi tão contundente que alguns intelectuais russos, com grande notoriedade mundial, reuniram-se numa comissão. Pediram a Lênin uma atitude positiva, no sentido de ajuda internacional às vítimas da fome. À primeira vista, o regime bolchevista não ficou interessado na história.
Porém, com a pressão da opinião pública internacional assistindo a tragédia do país, eles foram obrigados a conceder, para pacificar o país esfomeado.
Albert Fish, Cabra Cabriola Humano de Verdade
Um outro caso, então ocorrido na década de 1920, foi o de Albert Fish. Ele se assemelhava a um velho, porém era mais jovem e forte. Raptou e molestou 400 crianças, matando e devorando certamente 23 destas. Ele afirmava que o sabor era superior ao melhor assado por suposto que pudesse existir. Albert Fish foi preso em 1935 e condenado à cadeira elétrica.
Recentemente, em fevereiro de 2017 mais um caso foi narrado na Índia.Uma mãe então flagrou o filho devorqando o corpo de uma criança de sete anos, em uma casa abandonada.
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