A Cruz do Patrão ... Recentemente em maio de 2017 o monumento d' a Cruz do Patrão foi tombado pelo patrimônio histórico.
Aqui você vai ler o mais completo dossiê atualizado pelos dados arqueológicos de 2005 e já executado, sobre este monumento secular na net. Através de pesquisas FIDEDIGNAS.
De sua origem, significado, significância, até as lendas, causos e malassombramentos. Verdades? Mentiras? Seja bem vindo ao SOMBRAS DO RECIFE, que sempre traz artigos únicos e de qualidade nunca encontrados em um site de terror sobre o Recife. Confira!
A Cruz do Patrão - Pesquisa executada em dados bibliográficos pela Prof. Roberta Cirne, arte-educadora licenciada pela UFPE.
A Cruz do Patrão : origens Históricas, O Que É.
“Uma cinta de pedra, inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Netuno a fúria esquiva.”
BENTO TEIXEIRA, PROSOPOPÉIA (1601)
Segundo Vanildo Bezerra Cavalcanti, o Bairro do Recife foi o único bairro que não surgiu a partir de um engenho, e sim em função do produto de todos eles. Comercial então desde o berço.
Lojas, paços e feitorias que se espraiavam no porto do Arrecife dos Navios. Para assim proteger esses depósitos de coisas valiosas (tais como o açucar, que tinha o valor do peso em ouro na Europa), foram construídos os fortes.
O primeiríssimo foi feito às pressas. Então de madeira mesmo, e denominado “Forte de São Jorge”. Homenagem ao então Donatário Jorge de Albuquerque. Eram de fato as primitivas bases do então futuro “Forte do Buraco”.
Em 1606, devido à investidas piratas, a costa de Recife foi então fortificada com mais propriedade pela coroa portuguesa. Os verdadeiros fortes só surgiram a partir da chegada de Mathias de Albuquerque. E assim em 1640 já contava a cidade com 4 fortificações.
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Mas vamos nos ater à CRUZ DO PATRÃO nesta postagem.
No porto iniciante, foi colocado um cruzeiro de madeira. A princípio, como orientação aos navegantes. No ano de 1609, já era possível ver a antecessora da Cruz do patrão registrada em um mapa.
No istmo da antiga BARRETA, ficava a Cruz que, a princípio, também era usada como cemitério. Barreta, bairro hoje desaparecido, ficava de frente para a Ilha do Nogueira e era área então de AFOGADOS.
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A parte à esquerda desse desenho nos mostra a povoação do Recife em 1609, ainda em sua fase inicial de formação. São apenas duas ruas e oito ou nove quadras, com poucas casas. Na ilha de Antônio Vaz destaca-se o Convento de Santo Antônio (número 6). Assim ao norte da povoação, em frente à barra, o forte de São Jorge, ainda de terra.
Nessa época ainda não havia sido construído o Forte do Mar ou do Picão, projetado na Europa por Tiburcio Spanochi, cerca de 1606. Foi de fato construído por Cristóvão Álvares, sob a direção de Francisco de Frias de Mesquita (GONSALVES DE MELLO - 1961).
Algum tempo depois, em 1630 já temos uma nova caracterização do cruzeiro, realizada em data prévia à Franz Post. A cruz, marcada com a letra G KERKHOFF, traduzida por “cemitério” ( não tivemos campo santo até 1850).
Na livre tradução do Holandês, KERK HOFF quer dizer “Templo das Orações e Súplicas”. Acredito então que esta pré Cruz do Patrão servia para orientar ao porto e como lugar para enterro dos falecidos do povo de Recife.
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O marco em si é formado assim por uma negra coluna dórica. Com cerca de seis metros de altura por dois de diâmetro, sem nenhuma inscrição.
Tendo no alto uma cruz e em ambas as faces as iniciais I.NR.I.
Acrônimo de Iesvs Natsarenus Rex Ivdaeorvm, do latim, "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus". Sua denominação de fato é proveniente do termo náutico "Patrão", chefe da guarnição de embarcação pequena a remos ou a motor.
Ou então mesmo do o patrão-mor, maior autoridade portuária.
Então a Cruz também existia antes do Patrão. Pois a profissão de Patrão-Mor do porto (uma espécie de administrador) apenas foi instituída em 1654.
O cruzeiro de madeira provavelmente foi destruido pelo tempo, e não há registros cartográficos verossímeis sobre ter sido construída pelos holandeses neste meio tempo.
Assim, durante aproximadamente anos o istmo ficou sem sua sinalização. Podemos observar isso no mapa “CARTA GENOGRÁFICA”, de 1763, onde no lugar onde deveria estar a cruz, se encontra uma pequena fortificação, a TENALHA DA CHAMADA CIDADELA (assinalada no mapa).
Esta, desaparecida pouco depois, deveria ser de madeira ou algo bem precário. Poucos autores a mencionam em suas obras.
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Finalmente, a Cruz do Patrão deve ter sido construída entre 1745 e 1776, pois já no mapeamento do Pe. José Caetano, em 1759, já constava a sua presença, construída em alvenaria.
Fica então uma lacuna neste caso, já que a Carta Genográfica é posterior à do Pe. José. Teria a Cruz do Patrão existido até 1760 (reforçando a teoria dos holandeses) , sido removida- na então revolta dos Recifenses pós- invasão holandesa, e reconstruída após 1665?
Pereira da Costa, no entanto , em seu livro “ Anais Pernambucanos” fixa a data de construção d' a Cruz do Patrão em 1814. No Mapa de Padre José Caetano, assim podemos ver que já era de alvenaria.
Porém fontes bibliográficas também afirmam a sua posição distante 24 metros para a frente, bem no istmo. Foi transladada a posteriori para evitar enchente do rio Capibaribe
A Cruz Do Patrão e os Enterros. VERDADE OU MENTIRA?
O poeta Jerônimo Vilela dedicou duas quadras de sua poesia " A Minha Terra Natal" à Cruz:
“Possui três fortes no porto,
O Brum, Buraco e Picão,
Colocada entre os primeiros,
Domina a Cruz do Patrão.
Esta cruz tão respeitável
Essa tão santa divisa
Guia seguro e tão certo
Da nossa barra é baliza.”
Porém , as histórias ligadas à cruz não são tão positivas e belas assim... Vamos então averiguar algumas e chegar às conclusões ao final do post.
O Lugar era de fato usado para coisas certamente diversas, em diversas épocas. Fama de assombrada desde o início, a Cruz do patrão segundo a tradição oral, era assim usada sempre para enterrar os negros que chegavam mortos nos navios .
Os assim chamados “negros novos” ou sem batismo cristão, que morriam pagãos. Uma das explicações de fato mais lógicas era a da ausência de um cemitério, ou campo santo para enterros.
Desde o começo, no antigo cruzeiro de madeira que ficava no istmo, as pessoas ali eram enterradas. Sob a sombra da cruz, aqueles que não podiam arcar com enterros de luxo, feitos em igrejas. Ou então que fossem pagãos ou suicidas.
No período colonial não havia cemitérios no Brasil. As pessoas assim geralmente eram sepultadas sob o piso ou nas paredes das igrejas e dos conventos.
Mas devemos observar que, no mapa de 1609, a cruz de madeira distava um pouco da costa, para evitar as enchentes, e que corpos fossem levados pelo mar.
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Dentro de uma mentalidade marcada pelo pensamento medieval, ser enterrado em uma igreja era ficar perto de Deus.
O que aumentava a possibilidade de uma vida feliz no além. As Igrejas então enterravam os corpos de seus fiéis desde que tivessem sido pessoas de certa posição social, e que os seus pudessem arcar com as despesas do sepultamento.
Assim, quanto mais alta a posição social do defunto,maior sua proximidade com o templo, quando não do próprio altar.
Assim, era comum na colônia que igreja e cemitério se localizassem no mesmo sítio. Em muitas situações de fato o cemitério ocupava uma área maior que a da própria igreja, estendido pelo chamado adro ou largo que ficava adjacente ao templo.
Esse local exterior possuía o mesmo status sagrado do interior, ainda que fosse menos destacado. São muitos os exemplos de enterros nos adros das igrejas, certamente levando a palavra a ser sinônimo de cemitério.
Só a partir de 1828, por razões de saúde pública, começaram a surgir leis que
determinavam a criação de cemitérios municipais, que começaram a ser usados em Recife no ano de 1850. A epidemia de cólera Morbo que tivemos dizimou 1/3 da população recifense.
E aí, construíram Santo Amaro das Salinas.
Ainda assim, era caro enterrar lá, e os negros, tratados como “peças”, e que valiam pelo trabalho, eram descartados em lugares ermos, mas SURPRESA: NÃO HAVIA O USO DE ENTERRO DE NEGROS NA ÁREA DA CRUZ DO PATRÃO.
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Veremos isto mais adiante.
Uma das funções pavorosas da Cruz, era a de ser lugar de fuzilamentos. Lá, centenas de prisioneiros encontraram seus destinos pelo fuzil da cavalaria. O último fuzilamento da Cruz se deu no dia 6 de maio de 1850, como registrado no Diário de Pernambuco do dia. Isso é comprovado historicamente e embasado nos registros e anais .
Lá também ocorriam, como bem citou Gilberto Freyre, rituais de candomblé. Vários terreiros usavam a região para isso. Não é à toa que o lugar era cheio de temores do além-túmulo. Vamos conhecer algumas das histórias?
Assombrações , Malassombros, Fatos Pitorescos e Mais!
No século XIX, Franklin Távora, autor do livro “O Cabeleira”, escreveu a respeito do medo das pessoas em passarem perto da Cruz do patrão. Preferindo MESMO fazerem o caminho mais comprido. Quem ali passasse, ouviria os gemidos e lamentos das almas penadas.
Os canoeiros tinham o cuidado de navegar por dentro, para evitar o istmo a todo custo. Mas o que mais assustavam eram as histórias ligadas à magia negra. Onde feiticeiros iam invocar o demônio nas noites de São João. Gilberto Freyre cita, no seu “Guia Sentimental”, qua uma mulata gordinha foi arrastada para dentro do rio pelo próprio capeta. Ao caírem na água, o barulho do fogo apagando e o cheiro de enxofre empestearam o ar.
Conta-se também de um certo estudante que ali foi encontrado morto. As suspeitas caíram sobre um soldado da região. Não podendo provar sua inocência, foi aprisionado em Fernando de Noronha. Anos depois, descobriram que ele era inocente, o crime fora cometido por outro.
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Mais uma história, pois da literatura, ligada com a Cruz do Patrão. O escritor de “A Emparedada da Rua Nova”, Carneiro Vilela, escreveu ele também, em 1871, um livro baseado nos horrores da Cruz do Patrão, chamado “O ESQUELETO”.
O livro é de fato um romance de amor, entre Lívia e Felipe. Mas com terrores de arrepiar a espinha, pois o casal marcava encontros sob o luar e a cruz do patrão.
Já no século XX, Durante a então Segunda Guerra Mundial, a 2ª Companhia Independente de Guardas foi encarregada de fazer a proteção do porto contra os alemães. Os soldados certamente temiam guarnecer a Cruz do patrão , muito mais pelos mal-assombros do lugar do que pelos possíveis invasores.
E então quanto à famosa historia da Inglesa MARIA GRAHAM e os enterros de negros à flor da terra na cruz do patrão? Vamos ver em seguida.
COMPROVADO ARQUEOLÓGICO: NUNCA HOUVE SEPULTAMENTO DE NEGROS NA CRUZ DO PATRÃO.
A inglesa Maria Grahan, que no século XIX publicou os relatos de sua viagem ao Brasil- “Diário de uma viagem ao Brasil” descreve uma cena que ela considerou uma das mais horríveis que já havia visto, justamente n'a cruz do Patrão.
Ela faz o relato de uma cena que presenciou no istmo de Olinda na sua passagem por aquele local. Quando da sua volta de Olinda para o Recife. Após participar de alguns festejos naquela cidade.
“O sol já ia baixo muito antes de termos alcançado sequer o primeiro dos dois fortes (Buraco e Brum, respectivamente) em nosso caminho de volta para a cidade. Os cães já haviam começado uma tarefa abominável.
Eu vi um que de fato arrastava o braço de um negro de sob algumas polegadas de areia, que o senhor havia feito atirar sobre os seus restos. É nesta praia que a medida dos insultos dispensados aos pobres negros atinge o máximo.
Quando um negro morre, seus companheiros colocam-no numa tábua, carregam-no para a praia onde abaixo do nível da preamar eles espalham um pouco de areia sobre ele.
Mas a um negro novo até este sinal de humanidade se nega. É amarrado a um pau,carregado à noite e atirado à praia, de onde talvez a maré o possa levar”.
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Louça ritualística e ossos de animais que foram assim confirmados como pertencentes à rituais ali performados. Tendo objetos de ferro, provavelmente à OGUN, orixá ligado ao ferro. Gilberto freyre então estava bem certo sobre as cerimônias que de fato aconteciam por ali.
MAS NÃO HAVIA COMO ENTERRAREM NEGROS POR ALI. O TERRENO, PERTO DOS FORTES SOFRE DO REBAIXAMENTO NATURAL DOS ARRECIFES. Além de que, quando a maré sobe, era impossível manter corpos ali, por conta de erosões . A areia fofa também sempre impediria.
O que enfim aconteceu realmente, pode ter sido uma coincidência, de Maria graham ter visto um corpo ali abandonado, e ter tomado como costume local.
No dia dia 25 de maio de 2017, a cruz do Patrão foi tombada pelo Conselho Estadual de Preservação do patrimônio Cultural. A área do entorno também está tombada.
Agora... Será que conseguirão fazer algo de revitalização, coisa que é tentada há mais de cem anos? Veremos certamente se a CRUZ deixará...
E Vamos aos Finalmentes.
Não existem conjecturas enfim face os fatos comprovados pelas escavações arqueológicas. Qualquer outra especulação por site, ou reportagem, certamente é falaciosa. Este artigo foi escrito então com bases bibliográficas extensas.Tudo aqui exposto também tem embasamento comprovado.
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