Conta-se   assim  que era  uma noite chuvosa e fria. Os trovões e relâmpagos ressoava, tirando o sono e a paz dos recifenses. Tudo era silêncio  no convento de Nossa Senhora do Carmo. Convento esse construído em meados do século 18,bem no lugar em que anteriormente se erguia o palácio que servia de morada ao príncipe holandês Maurício de Nassau. De repente, batidas na porta.

O porteiro-leigo escutou o barulho da aldrava do portão, e então curioso levantou-se da cama onde dormia. Foi então atender a quem chamava, deparando-se, então, com um senhor de idade, encharcado pela . O pobre homem assim estava tremendo de frio, mas lhe perguntou com voz humilde se poderia abrigar-se ali da tormenta  sem fim.

Zangado por ter tido o seu descanso interrompido daquela forma, o porteiro da igreja respondeu grosseiramente que não.  Então desejando colocar um ponto final na conversa que não lhe interessava, sugeriu ao pedinte que procurasse refúgio debaixo de qualquer uma das pontes existentes naquela região. Ou que, sim buscasse a soleira de alguma porta. E logo em seguida, sem dizer mais nada, voltou a trancar o portão.

Dali o velhinho caminhou vagarosamente em direção à igreja de São Pedro Gonçalves. A Corpo Santo, que não ficava muito distante e então  chegando lá bateu timidamente em sua porta.

O porteiro da Corpo Santo também  o atendeu quase que de imediato. Ms diferente ao do que sucedera minutos atrás, recebeu o pobre home com compaixão e amor. Permitiu que ele entrasse e ainda deu-lhe panos para se enxugar. Também um pouco de comida. Depois indicou ao mesmo um canto na sacristia, onde o ancião poderia deitar-se sobre um colchão e dormir convenientemente agasalhado.

De  manhã cedo, quando o porteiro foi acordar o abrigado, descobriu estupefato que ele desaparecera. Em seu lugar, envolvido pela coberta, uma imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos, tão bonita, tão maravilhosa. Usava uma vestimenta“de seda lilás, com resplendor de prata, tão rica e imponente em seu resplendor divino”. O bom homem então caiu de joelhos, rezando fervorosamente.

Segundo  de fato o relato de Theobaldo Miranda Santos, “Quando se espalhou a notícia de que o velhinho mendigo fora o próprio Senhor do Corpo Santo, os frades do Carmo lamentaram profundamente a falta de hospitalidade do  porteiro. E como o Senhor do Corpo Santo houvesse procurado, em primeiro lugar, o Convento do Carmo, alegaram que tinham direito à posse da imagem. Os padres da igreja de São Pedro Gonçalves protestaram e o caso foi submetido à justiça”.

“A questão durou muito tempo, mas, afinal, a igreja de São Pedro ganhou a demanda. Seria cedido apenas ao convento a honra de hospedar, por uma noite, apenas, o Senhor do Corpo Santo. Eis então porque antigamente, durante a Quaresma, a imagem do Senhor do Corpo Santo saía de sua igreja para o Convento do Carmo, e daí regressava logo depois, com grande acompanhamento de fiéis”.

“Infelizmente a igreja do Corpo Santo, outrora tão bela e admirada, foi arrasada para ampliação da cidade do Recife. A igreja da Madre de Deus abriga hoje a imagem do Corpo Santo e também o altar-mor da Corpo Santo. Até hoje, lá se encontra, sem ter voltado a realizar a tradicional visita ao Convento do Carmo”.

Em abril de 2008, após mais de cinco anos fechada para reparos, Recife viu uma de suas igrejas mais antigas novamente de portas abertas. No coração do Recife antigo, a igreja Madre de Deus voltou a receber turistas e fiéis.

As obras concentraram-se  então no altar-mor, o mais atingido pelo incêndio que atingiu a igreja em 1971. Os entalhes de ouro foram assim  recuperados e, co dourado do altar captura a visão de quem entra. Também chama a atenção a grande quantidade de imagens de santos que preenchem os nichos em lugares de destaque. Algumas delas de fato vieram da igreja do Corpo Santo. Como registro dos danos causados pelo fogo, uma pequena parte no alto da lateral direita do altar foi mantida enegrecida, tal como o incêndio a deixou”.

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