século XX

Século XX e os Transportes no Recife: Parte 3

A chegada do Século XX trouxe muitas novidades em tecnologia de transportes urbanos, e isto também influenciou os Transportes no Recife

Terceira e última parte da série de reportagens sobre o surgimento dos transportes urbanos no Recife. Leia aqui como foi o século XX, as mudanças na cidade e suas consequências.

Século XX e os transportes urbanos no Recife: Começa uma nova época.

 

Como vimos então nas postagens anteriores, em 1914 tínhamos já os bondes elétricos para circulação local e as maxambombas para distâncias. A princípio, todos queriam também usufruir do transporte e ir para as estações de bem-estar do Recife.

Eram assim no início do século XX,  Ponte D’uchoa e Poço da Panela, para curar  enfermidades em geral , ou para festividades de fim de ano.

No quesito carros particulares, houve um, em 1903 que transportava então  de Goiana para Recife cerca de 12 passageiros, um ônibus carro. Em 1904, o Dr. Octávio de Freitas também recebeu, vindo da Europa, o primeiro automóvel particular  da cidade.

Era um Renault . O doutor Octávio, aliás, era bem chegado das modernidades. Foi também  o primeiro a usar paletó saco e chapéu panamá de palhinha. Os então elegantes ainda usavam sobrecasaca e cartola.

 

Dr Octávio de Freitas e a chegada de seu automóvel, em 1904

Dr Octávio de Freitas e a chegada de seu automóvel, em 1904

Studbaker de 1906 no Recife e seus passageiros

Studbaker de 1906 no Recife e seus passageiros

A partir de 1875, novas áreas foram assim contempladas pelos trilhos da maxambomba. Inclusive para Olinda e seus saudáveis banhos salgados. Na então praça do Carmo, ainda temos o prédio reminiscente  da estação final do trem.

Assim como os bondes de burro, as maxambombas também  circularam até 1914, quando os bondes elétricos também foram colocados para Olinda.

Os Bondes Elétricos

Os bondes elétricos  no século XX eram de fato um sonho. Sonho de afto que os recifenses tinham desde a inauguração do sistema em 1891, pela “Botanical Garden”, no Rio de janeiro.

Recife foi assim  a segunda cidade brasileira a ter instalado bondes a vapor. Assim também, pode ter sido a inédita primeira cidade no mundo a usar locomotivas a vapor dentro de limites urbanos.

Apesar de seu espírito pioneiro no vapor, Recife foi então a última das grandes capitais brasileiras a ter bondes elétricos. Apenas então  depois de 21 outras cidades no Brasil.

Isso ocorreu em 1912, com a Pernambuco Tramways & Power Company. Foi criada em Londres, que iniciou os testes em terreno recifense em  11/1913 e inaugurou a primeira linha elétrica (da área do bairro do Recife até Boa Vista, através de Santo Antônio) em 13/5/1914.

Foi  certamente o fim dos “ELETROBURROS”no século XX. Mas os bondes a vapor ainda circulavam, até 1922.

O primeiro bonde elétrico então  surgiu nas ruas do recife no dia 8/04/1914. Era amarelo,  esmaltado com uma gravura no teto, e com 12 bancos. Era o chamado modelo “ Minas Gerais”- como conhecido no Rio de janeiro, em homenagem ao nosso couraçado.

 Em 13 de maio, foi inaugurado oficialmente. A cerimônia de fato contou com a presença do então governador General Emydio Dantas Barreto (que deu nome à avenida, depois).

circularam 4 destes, fazendo o circuito entre o Bairro do Recife e a Praça Maciel Pinheiro, e uma outra linha até o Cabanga. Em outubro de 14, já iam até o Varadouro.

Tipos de Bondes Elétricos

Neste começo, os bondes assim representavam a modernidade e velocidade. Os cinemas aumentaram em número, e se inauguraram os teatros do Parque e Moderno.

Calçamento melhor, remodelação do bairro do Recife e luz elétrica complementavam o ideal de avanço. Perdia-se, no entanto, os costumes de conversa e proximidade, à medida que a cidade crescia.

ELETROBURROS, ainda , no Arco de santo Antônio (circa 1910)

ELETROBURROS, ainda , no Arco de santo Antônio (circa 1910)

No começo, todos os bondes eram então  abertos, mas depois, se tornaram de entrada única,e fechados. Sobre este modelo, os primeiros, iam aos banhos salgados de Boa Viagem, o que ocasionou então  muitas trovinhas populares:

“Preparadas as moças qual fossem para dançar
Vão correndo de leque e anquinhas para o mar
Mas em chegando às praias, quando saem dos banheiros, então
Parece que vem todas vestidinhas como Eva e Adão”

Bonde elétrico fechado, trajeto Praia de BOA VIAGEM 1924

Bonde elétrico fechado, trajeto Praia de BOA VIAGEM 1924

Estes bondes abertos, denomivam-se então de Gigolôs. Após a aparição do Zepelim, nos anos 30 do século XX , os bondes prateados levavam seu nome.

A partir de 1919 já havia duas garagens de carros de aluguel, ou taxis: A FORD e a UNIÃO. Eram das marcas Bayard, Ford e Renault. Aos poucos, as famílias foram adquirindo seus carros, e os mesmos se popularizavam no carnaval, nos desfiles de corso pela cidade.

"Gigolô" trajeto Bairro da Torre, 1930

"Gigolô" trajeto Bairro da Torre, 1930

No então  período pós-guerra, tinha até um bonde gratuito entre Santo Antônio e o Recife Antigo. A este bonde, o povo denominou “AMÉLIA”, em homenagem à música de Mário Lago: Uma mulher generosa, que nada negava ao seu marido. Mas os bondes Amélia também acabaram, com o tempo.

Bonde ZEPELIM, prateado 1930

Bonde ZEPELIM, prateado 1930

O começo do Fim

Os bondes experimentaram então uma época de bastante divulgação, mas pouco a pouco se tornavam obsoletos .

Havia de fato uma grande demanda pelos usuários, e as ruas não comportavam a passagem de muitos de uma vez, sendo as mais largas, com apenas 8 metros de lado a lado.

Outros fatores para o declinio foram também as mudanças sociais, a revolução de 1930 , o crescimento de áreas urbanizadas e indústrias, a chegada de estrangeiros fugindo da segunda guerra mundial.

Agente de Trânsito no Recife - av. Guararapes - 1940

Agente de Trânsito no Recife - av. Guararapes - 1940

Com este aumento de população, era comum ver as pessoas penduradas nos bondes, os famosos “pingentes”. Isso causava geralmente muitos acidentes.

Várias vezes, ao passar emparelhado com outros bondes, ou caminhão, uma pessoa também poderia ser arrastada do balaústre e morrer. A sobrecarga de passageiros também fazia o número de reparos das máquinas aumentar. Causava atrasos , quando então quebravam ao meio do caminho.

 

1943- Bonde reformado na Ponte Maurício de Nassau

1943- Bonde reformado na Ponte Maurício de Nassau

Com a Guerra, a importação das peças de reposição para reparo dos coletivos - motores elétricos, lâmpadas, madeiramento para os bancos e outras - foi ficando difícil.

Para os defeitos apresentados eram feitos arranjos. Quando os bondes ficavam sem condições de trafegar, acabavam sendo rebocados para as oficinas.

 

Curiosidades Curiosas

O desaparecimento desses coletivos no século XX, que tantos e tão bons serviços prestaram aos recifenses, foi um processo lento e moroso.
Enquanto foi possível manter o serviço, mesmo em condições precárias, o povo usou o bonde até sua extinção total em 1958.

    A popularidade do bonde no século XX  serviu de inspiração para ditos e expressões populares que entraram para o folclore, por exemplo:

Andar na linha (do bonde) – Ser correto e sincero nos negócios.

Cara de bonde – pessoa de duas caras, em quem não se pode confiar.

Pegar o bonde errado – enganar-se quanto ao bom êxito da aventura ou negócio.

Quem vai pra farol é o bonde de Olinda – nessa conversa fiada eu não caio.

Saltar do bonde em movimento – interromper a cópula para evitar uma gravidez.

Tocar o bonde pra frente – Acreditar e colocar o negócio para evoluir.

Hoje, quem quiser matar as saudades ou conhecer um bonde, há um, do tipo pequeno, com 36 lugares, exposto à visitação pública nos jardins do Museu do Homem do Nordeste. Proveniente de contrato de comodato, assinado entre a CELPE e a Fundação Joaquim Nabuco, no dia 5 de março de 1985.

Trolebus e Ônibus

Ônibus elétricos (trolebus) Recife 1960

Ônibus elétricos (trolebus) Recife 1960

   Em meados do sécul XX, 1960 Inicia-se então, no Recife, a fase do transporte de passageiros por ônibus trólebus, (ônibus movidos a eletricidade. Era então transmitida por cabo aéreo suspenso sobre o seu trajeto), tendo como empresa responsável a Companhia de Transportes Urbanos (CTU), órgão da Prefeitura Municipal do Recife.

Eram 13 linhas assim servidas por 65 ônibus importados da Marmon-Herrington Automotive Company de Indianápolis (EUA) para a capital pernambucana. Em dez anos a CTU ampliou sua frota para 140 veículos distribuídos em 18 linhas.

   Na década de 1970, a CTU possuía veículos trólebus da última fabricação da firma de Indianápolis, com três portas e únicos no mundo em estado original.

 A CTU rapidamente sofreu um declínio, pela falta de estrutura  e constantes quebras dos veículos. A regulamentação veio em 1980, com a CTTU.

   O sistema Trólebus de fato sofreu um processo lento e gradual para ser desativado. Deixou totalmente as ruas do Recife em 24 de setembro de 2001. Quando então  a população já estava adaptada ao ônibus movido a óleo diesel.

   Têm início, em 1972, as atividades da empresa Pedrosa Transportes, localizada no bairro de Nova Descoberta.

A empresa de transporte coletivo de passageiros Expresso Vera Cruz, fundada em junho de 1969, muda de administração e conta. Em 1975, então com 24 veículos, servindo apenas a linha de Cajueiro Seco.

A Empresa Pedrosa funciona até os dias de hoje.

Pega o Metrô!

Em setembro de 1982, foi criado o Consórcio Metrorec. Constituído então pela Rede Ferroviária Federal S/A e pela Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU, atualmente extinta) – que deu início, em janeiro de 1983, à construção do Metrô do Recife. Iríamos entrar nos modismos do sul/sudeste.

 Em 1985, o Metrorec foi de fato incorporado a Companhia Brasileira de Trens Urbanos. Por intermédio assim  de sua Superintendência de Trens Urbanos do Recife . Teve início a circulação dos primeiros trens de passageiros.

    Entre 1998 e 2009, o Metrô do Recife passou por algumas modificações. Entre elas enfim as obras de expansão com a eletrificação da Linha Sul (Estações Recife e Cajueiro Seco). Também  o prolongamento da Linha Centro (Estação Rodoviária até Camaragibe, inaugurado em 2002).

Gostou de nossa reportagem? Leia a HQ BOCA DE OURO, que fala um pouco dos transportes urbanos no recife de 1910, AQUI.

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